terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tonight is the night for surrender

Poco. Legend, 1978.

Bons tempos do vinil. A capa grande branca com o cavalo poderoso de olho vermelho apenas delineado. Para quem já conhecia a banda um susto logo de cara. Formação nova, de novo. Agora apenas 4 na banda: Paul Cotton, lead guitar e vocais; Rusty Young, steel guitar e vocais; Charlie Harrison, baixo e vocais; Steve Chapman, bateria e mais alguns músicos adicionais. O 13º disco da banda, que, junto com os Eagles, re-definiram e ampliaram o conceito de country rock inventado pelos Byrds e explorado pelos Flying Burrito Brothers, Buffalo Springfield e depois por Crosby, Stills, Nash & Young e muitos outros.

Muitos músicos famosos passaram antes e depois por essa grande banda. Gente como Jim Messina, Richie Furay, Randy Meisner, George Grantham, Timothy B. Schmit, Al Garth entre outros.

A nova banda veio com um novo som, mais orientado para o pop e para o mainstream do rock e a fórmula parece que funcionou bem melhor que a anterior, mais tradicional e de raiz. Tanto que, neste disco estão dois ou três dos maiores hits individuais da banda. "Heart of The Night" e "Crazy Love", além das belíssimas "Spellbound", "The Last Goodbye", "Barbados", "Little Darlin'" e das mais ritmadas "Boomerang" e "Legend" formam um total de 9 canções altamente interessantes, audíveis e tocáveis, mesmo hoje, passados mais de 30 anos do seu lançamento.

As harmonias vocais complexas, os arranjos sofisticados que beiram a perfeição, a qualidade instrumental dos músicos permeia todo o disco que resulta absolutamente coeso, equilibrado, daqueles em que fica difícil escolher a melhor música, todas elas compostas ou por Cotton ou por Young. O disco foi produzido por Richard Sanford e gravado em Los Angeles. A edição em vinil (MCA Records) continua insuperável.


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Volver a los 17


05/10, my birthday! Estou feliz, porque não tenho outra opção melhor do que envelhecer, hehe, então let's rock. Triste pela perda de Mercedes Sosa, que ouvia direto nos tempos de GV, mas certo de que a voz dela e sua crença na igualdade e justiça para a nossa A.L. não morrerá nunca. Que os anjos a tenham. Nós a aproveitamos bem. E me lembrei dessa canção, que dá nome ao post. Puxei pela memória e procurei um disco feliz de 1972 , 1973, clássico, subestimado, esquecido ... hum ... pronto! Slade Alive!

Lembro até como travei conhecimento com esse disco. Ali, no centro velho de Sampa, fuçando nas lojas de discos, pedindo para ouvir rock e tal, o vendedor põe um disco e diz prá mim faixa 1, e rola "Hear Me Calling": baixo, palmas, guitarra, vocais, gritos, tensão crescente, entra a bateria, a coisa esquenta, a velocidade das guitarras aumenta, eu digo: põe mais alto. E o cara aumenta. E tudo vibra. Acho que quem estava por ali ficou meio perturbado, mas eu fiquei TOTALMENTE perturbado. A música rolou inteira até o fim. E eu comprei o disco, claro.

Ouvi muitas vezes em casa depois, a faixa 1, a 2, todas elas. A alegria desse disco, a festa que foi esse concerto, estão ali muito bem registrados com ampla participação da platéia, uma banda em plena forma, um repertório clássico, com covers de Alvin Lee, Steppenwolf, John Sebastian ... O disco encerra com Born To Be Wild numa versão arrepiante e clássica, digna desse grande hino, trilha sonora do final dos anos 60 e de Easy Rider, o filme.

A produção é de Chas Chandler (vejam a ficha do cara na Wiki), ex-baixista dos Animals, ex-empresário de Jimi Hendrix (o cara que O levou para a Inglaterra em 1966) é impecável. O album é homogeneamente feliz, a banda está solta no palco, rock'n'roll clássico no repertório e platéia animada. Podia dar errado, mas não deu. É um melhores albuns ao vivo da história do rock, na minha opiniãozinha.

Há alguma conversação registrada, arroto do vocalista (na balada do disco, a música "Darling Be Home Soon", de John Sebastian, do Lovin' Spooful), sons da platéia. Até um tamborim foi tocado por um membro da audiência, Tudo pode parecer meio bobo hoje, talvez. Mas, crendo que não sou muito surdo, acho que não. Tenho certeza que muitas bandas de heavy-metal e de hard-core que apareceram nos anos 70 e ficaram muito mais famosos que o Slade, ouviram este disco.

E como eu, ouviram felizes. Alguns copiaram bem, melhoraram e seguiram, como deve ser.

Long live rock'n'roll e gracias a la vida!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

To anyone who's ever had a heart


Alguém aí sabe o que têm em comum Lou Reed, Elvis Presley e uma pequena igreja católica no Canadá, mais precisamente em Toronto? Não? Mais 10 segundos ... Ok, São Google provavelmente responderia isso em menos tempo, mas certamente sem a mesma graça do texto que você está prestes a ler (oh, calcutá, quanta pretensão)!

A resposta é "The Trinity Session", um álbum gravado em 1987 pelo grupo canadense Cowboy Junkies, ao vivo, dentro da igreja Holy Trinity em Toronto, com um microfone e um gravador DAT. O repertório é um misto de composições próprias da banda, formada por três irmãos da família Timmins e um amigo baixista, e alguns covers inusitados e recriados de artistas como Lou Reed, Hank Williams e Elvis Presley.

Parece simples. De fato deve ter sido simples pensar nesse disco antes, mas os resultados foram certamente muito além do que esperavam seus idealizadores. O que temos aqui, registrado e gravado, é um disco absolutamente incrível e emocionante. Não há uma canção supérflua ou destoante. O disco todo é uma peça única de música contemporânea, com seus tristes tons de country e blues da mais legítima tradição norte-americana.

Não é, no entanto, um disco fácil de ouvir. E talvez quem o ouça pela primeira vez nem se aperceba de sua real grandeza. Há muita sutileza neste trabalho. A voz de Margo Timmins é doce, afinada, de curto alcance mas sempre precisa. As guitarras acústicas e slide permeiam todo o disco. O baixo maravilhoso ressalta, pontua e destaca melodias simples e belas. A bateria é tocada, como as guitarras, de maneira suave e com timbres jazzísticos. Aqui e ali, sons de acordeons e gaitas, transformam a experiência da audição desse disco em um rito quase religioso.

A canção inicial, "Mining for Gold", cantada a capella por Margo fixa e estabelece os altíssimos padrões de som e pureza que virão a seguir. Dizem que esta foi a única canção gravada em "outra" sessão no mesmo local mas em outra data, sendo todas as demais gravadas pela banda em uma única, memorável e mágica noite de novembro de 1987.

"Misguided Angel" tem versos do tipo que Emmylou Harris ou Patsy Cline cantariam com muito gosto e sentimento. "Blue Moon Revisited (Song For Elvis)" é uma recriação do velho clássico "Blue Moon", num ritmo muito mais lento e hipnótico, com belíssimo arranjo e um solo de guitarra de arrepiar. Outras canções maravilhosas seguem.

O maior "hit" desse disco foi a versão para o clássico do Velvet Underground, "Sweet Jane". Uma versão muito, muito lenta, mas que ainda assim conserva o espírito "viajante" da canção de Lou Reed. Uma pequena maravilha recriada em pouco mais de 3 minutos.

A lembrar ainda a qualidade de som do disco. Uma proeza, considerando a simplicidade e as características da gravação. A atmosfera mágica da pequena igreja certamente ajudou a transformar esta sessão de música num presente de durabilidade infinita. Um presente para todos aqueles que simplesmente tenham coração.




sábado, 18 de julho de 2009

Time is an ocean of endless tears



Pegue uma notícia antiga de jornal, como a prisão de um jovem porto riquenho após uma briga de rua em NYC que terminou com a morte de outro jovem, branco no caso. Contextualize. Situe data, local e ambiente. Crie personagens, enredo, falas. Imagine uma trilha sonora. Não, melhor: componha uma. Você é capaz? Talvez muitos sejam, mas da forma que Paul Simon fez em 1997 em seu disco, trilha sonora para a peça "Songs From The Capeman", eu duvide-o-dó.

Que Paul Simon é um excelente contador de histórias e um músico extraordinário talvez você já saiba. Caso contrário, procure ouvir este disco. Há uma enorme musicalidade aqui, a serviço de um roteiro interessante, mas que acaba ficando em plano secundário. Os temas musicais se sucedem, variando ritmos, arranjos, cantores de uma forma absolutamente coesa e irresistível. Algumas vozes diferentes ajudam a compor a informação. Paul não se omite e coloca também suas opiniões, muitas vezes, na boca de seus personagens.

Há os policiais de fronteira, os jornalistas, os chefes de gangue, as mães da vítima e do assassino, os guardas de prisão. Versos como "A spanish boy could be killed every night of the week, but just let some white boy die and the world goes crazy for blood-Latin blood" permeiam todo o texto.

A peça não fez sucesso, nem o disco. O que, no caso, pouco importa. O registro das músicas, a combinação de ritmos latinos, doo-woop e de classic rock é feita de maneira tão virtuosa que crítica alguma pode desmerecer o trabalho de Paul Simon, um dos melhores em sua longa e talentosa carreira.

Não deixe de ouvir.